No retrato actual do Concelho de Almeida, são marcantes os traços característicos das regiões deprimidas e periféricas que desde os anos sessenta vêm perdendo gradualmente o seu melhor recurso, factor fundamental no processo de desenvolvimento de qualquer país – as pessoas.

A história demonstrou que um país que não aproveita o seu melhor recurso, está condenado ao fracasso e os actuais indicadores demográficos e de actividade económica do Concelho confirmam-no. Estamos a assistir à agonia lenta e dolorosa das nossas aldeias que já foram alfobres de gente em que a terra era escassa e pródiga para alimentar tanta boca. Não sendo gente conformada, muitos partiram nos anos sessenta para reconstruir a Europa, desbravar África e criar os bairros dos grandes centros urbanos.

Abril de 74 e a adesão à Europa, abriram as consciências e, além da liberdade, integraram-se na sociedade outros bens fundamentais onde emergem os conceitos de equidade no acesso universal à saúde, à educação, ao saneamento, à energia, às tecnologias da informação e à habitação. Acontece que muitos dos serviços e infraestruturas criados, ou a criar, poderão transformar-se em elefantes brancos apenas e só porque os beneficiários directos, no médio-longo-prazo já cá não estão e nem estão a ser criadas condições para favorecer o retorno da segunda geração dos que partiram.

Desde o início dos anos 90 que em Aldeia de S. Sebastião (ASS) se teima contrariar este cenário deslizante e deprimente. Fazendo uma retrospectiva aos anos 90 e aos registos fotográficos do acto de lançamento da primeira pedra da ADCS – Associação Desportiva Cultural e Social de ASS, nenhum dos voluntariosos que então participou (muitos já partiram) ousou balancear a dimensão das realizações futuras. Á construção da sede social com funções polivalentes, seguiu-se o parque desportivo, a piscina, os bungalows e finalmente o Lar para a 3ª Idade. Se as realizações em si foram importantes, a avaliar pelos resultados directos e impacto nos beneficiários, um outro resultado muito mais importante é a criação de emprego perene, instrumento promotor de fixação de pessoas e acréscimos do rendimento disponível das famílias do concelho de Almeida. Hoje, mais do que nunca, o emprego é um bem inestimável para a população do concelho de Almeida.

Não foi um percurso fácil. A prevalência do conceito de bem-comum de uma centena de habitantes, ancorado em práticas e tradições comunitárias de partilha e entre-ajuda; O hábito de resolver os problemas pelos seus próprios meios – enfatiza-se o facto de uma boa parte das realizações e dos fundos terem sido conseguidos com base em trabalho e contribuições em espécie; A vontade de fazer mais e melhor, remando por vezes contra a letargia das instituições públicas: foram os vectores de força do projecto.

Se é justo referir que as realizações resultaram de múltiplas vontades de valor imensurável, onde se inscrevem as sucessivas direcções da ADCS e a população da Aldeia e do Concelho em geral, seria injusto não registar aqui os nomes dos que lideraram o processo, nas pessoas dos irmãos Joaquim e António Fernandes coadjuvados por uma equipa em sintonia com os princípios orientadores da ADCS. Uma boa parte do seu tempo e toda a sua energia e capacidades, têm sido dedicadas aos sucessivos projectos e actividades promovidas pela ADCS. As múltiplas e diversificadas contribuições encontram-se registadas nos suportes contabilísticos e na memória de todos os que vierem a beneficiar de todas as valências criadas.

A dimensão e diversidade do projecto, veio demonstrar que a sociedade civil, quando animada por princípios de solidariedade e partilha, pode fazer mais e melhor do que as instituições públicas. Em primeiro lugar conhece melhor os problemas e encontra sempre soluções mais adequadas para os resolver; Em segundo não é permeável às clivagens e alternâncias de poder da esfera politica; Em terceiro, move-a o interesse comum e não o exercício ou a conquista do poder.

É neste contexto que, naturalmente, foram atribuídos à ADCS a execução de importantes projectos onde emerge a gestão do RSI (Rendimento Social de Inserção) para os concelhos de Almeida e Pinhel, importante instrumento promotor da coesão social e que, apesar da polémica criada veio reafirmar e enfatizar o papel e as capacidades da sociedade civil; A realização de acções de formação como é o caso dos cursos de geriatria e das tecnologias de informação; Os cursos temáticos e ocupacionais; O apoio logístico às actividades juvenis e à prática do ecoturismo direccionado principalmente para as aldeias históricas, parque do Côa e outros centros de interesse de carácter regional. Dispomos de alojamento e fornecimento de refeições para albergar grupos de 50 participantes que nos procuram regularmente.

Um projecto modesto e de âmbito local, foi-se transformando gradualmente num projecto integrado, mais completo, coerente e, acima de tudo, sustentável. Associado à prestação de serviços, sempre cada vez mais exigente em matéria de requisitos qualitativos, prosseguiu-se um objectivo fundamental: A criação de emprego permanente e sustentável. É porventura o resultado mais ambicioso deste projecto. A ASS ao tornar-se um empregador de referência do concelho de Almeida, cumpre uma função social fundamental na fixação de pessoas e na dinamização da base económica do Concelho.

Na construção deste projecto pluridisciplinar, com evidente complementaridade, para além dos apoios da população da Aldeia, é de enfatizar a participação em todos os projectos de um vasto leque da população do concelho, agentes económicos nacionais e estrangeiros só possíveis de mobilizar na base da evidência do trabalho feito e sobretudo na confirmação de que as infraestruturas e serviços disponibilizados correspondem às necessidades do Concelho.

No próximo dia 1 de Julho cumpre-se mais uma meta deste ambicioso projecto : A abertura do LAR para a 3ª Idade, com capacidade para aproximadamente 30 utentes, equipado em conformidade com os regulamentos nacionais e requisitos de conforto e segurança. Este dia constituirá um marco para a ASS e para o concelho de Almeida. É o corolário de um longo percurso feito com persistência, rigor, abnegação e sobressaltos onde, porque não dizê-lo, também não faltaram os presságios dos velhos do Restelo.

Finalmente .... CONSEGUIMOS!

Aqui fica um reconhecimento a todos os que colaboraram e incentivaram a equipa que liderou o projecto, obra alicerçada na dinâmica da sociedade civil em parceria com as entidades públicas que souberam interpretar e reconhecer a relevância e a viabilidade dos sucessivos projectos. A leitura do caminho percorrido e os resultados objectivos conseguidos, conjugados com a vontade de fazer mais e melhor, auspicia que ainda há outros caminhos a percorrer. Que a ALMA não nos esmoreça!

José Santos Fernandes – Natural de ASS e sócio da ADCS

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